sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Maturidade Afetiva

A afetividade não está por assim dizer encerrada nos sentimentos, mas permeia toda a personalidade. Estamos continuamente sentindo aquilo que pensamos e fazemos. Por isso, qualquer distúrbio da vida afetiva acaba por impedir ou pelo menos entravar o amadurecimento da personalidade como um todo.

Observamos isto claramente no fenômeno de "fixação na adolescência" ou na "adolescência retardada". O adolescente caracteriza-se por uma afetividade egocêntrica e instável. Essa característica, quando não superada na natural evolução da personalidade, pode sofrer uma "fixação", permanecendo no adulto: este é um dos sintomas da imaturidade afetiva.

É significativo verificar como essa imaturidade parece ser uma característica da atual geração. O homem, esse desconhecido: vivemos hoje o drama de um desnível gritante entre o fabuloso progresso técnico e científico e a imaturidade quase infantil no que diz respeito aos sentimentos humanos.

Mesmo em pessoas de alto nível intelectual, ocorre um autêntico analfabetismo afetivo: são indivíduos incompletos, mal-formados, imaturos que estão preparados para trabalhar de forma eficiente, mas são absolutamente incapazes de amar. Esta desproporção tem consequências devastadoras: basta reparar na facilidade com que as pessoas se casam e se "descasam", se "juntam" e se separam.

O conceito de amor que se cultua na nossa época parece que se retrocedeu a uma espécie de adolescência da humanidade, onde o que mais conta é o prazer. Este fenômeno tem inúmeras manifestações.

- Edifica-se a vida sentimental sobre uma base pouco sólida: confunde-se amor com namoricos, atração sexual com amor profundo. Incapazes de um amor maduro, pessoas acham que é mais fácil conquistar do que manter a conquista.

- Diviniza-se o amor: a pessoa imatura idealiza a vida afetiva e exalta o amor conjugal como algo extraordinário. O amor é uma tarefa esforçada de melhora pessoal durante a qual se burilam os defeitos próprios e os que afetam o outro cônjuge.

- No imaturo, o amor fica "cristalizado” na fase de deslumbramento, e não aprofunda na "versão real" que o convívio conjugal vai desvendando. Quando o amor é profundo, as divergências que se descobrem acabam por superar-se.

- A pessoa afetivamente imatura desconhece que os sentimentos são dinâmicos. A pessoa madura sabe que o amor se constrói dia após dia, lutando por corrigir defeitos, contornar dificuldades, evitar atritos e manifestar sempre carinho.
- O imaturo quer antes receber do que dar. Amar para ele é uma forma de satisfazer uma necessidade afetiva, sexual, ou uma forma de auto-afirmação.

Os sentimentos são caminho de ida e volta, onde deve haver reciprocidade. A pessoa imatura acaba sempre queixando-se da solidão que ela mesma provocou por falta de espírito de renúncia. A nossa sociedade esqueceu quase tudo sobre o que é o amor. Não há felicidade se não há amor e não há amor sem renúncia. O imaturo pretende introduzir o outro no seu projeto pessoal de vida, em vez de tentar contribuir com o outro num projeto construído em comum. A felicidade do cônjuge, da família e dos filhos: esse é o projeto comum do verdadeiro amor. Quem não é solidário termina solitário.

Rafael Llano Cifuentes

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